AGORA A HISTÓRIA É OUTRA

Frases raras de soldados, filosofia barata de quartel, exemplos "edificantes" de Liderança, exemplos verdadeiramente edificantes de conduta, atitudes inesperadas e cômicas. Não vou criar nada, porém não vou citar o nome de ninguém (podem ficar tranquilos). Não há compromisso com a verdade. Isso é só o que desejo publicar a partir de agora no novo estoriasdoguerreiro.blogspot.com. Divirta-se.



segunda-feira, 27 de junho de 2011

Para que servem os militares!

Recebi esta mensagem de um camarada que hoje serve no Rio de Janeiro.

"...É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião que desejamos. É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa. É graças aos soldados, e não aos poetas, que podemos falar em público. É graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar..."




BARACK OBAMA no MEMORIAL DAY

(30 DE MAIO 2011 - sempre a última 2ª feira de maio de cada ano)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Despedida do General Heleno ao passar para a reserva

Em meu nome e do Gen Mayer, agradeço a presença de todos.


Há exatos 16 511 dias, transpus o portão dos novos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras.
Iniciava-se então o ciclo mais produtivo de minha vida. Tentarei, em alguns minutos, recordar, sumariamente, personagens, fatos e reflexões que marcaram de forma indelével essa trajetória.

Começo pelos meus 21 irmãos de Arma. Caminhamos juntos, desde a sábia escolha que fizemos, há 42 anos. Reunimos a melhor Turma de Cavalaria da história do Exército. Custo a acreditar que alguns cavalgam hoje nas pradarias eternas. Guedes, Gaspar, Vilarinho e Pedro Couto, guardo de vocês, que saíram de forma sem permissão, uma enorme e irremediável saudade.

Minha gratidão aos abnegados e brilhantes mestres e instrutores, muitos aqui presentes, que renovaram periodicamente meu horizonte de conhecimento, nas diversas escolas do nosso primoroso Sistema Militar de Ensino, oásis indiscutível da educação, em um País, onde esse tema só é prioritário nos palanques eleitorais.

Minha homenagem aos Oficiais Generais com quem convivi, ao longo desses 45 anos. Exemplos de dedicação, honradez e profissionalismo, eles são escolhidos por um Sistema de Promoções que não é infalível, por ser conduzido por seres humanos, entretanto é marcado pela honestidade de propósitos, pela isenção e pelo senso de justiça. Espero que não aceitemos jamais ingerências políticas nesse processo, sob pena de violarmos nossos valores mais caros.

Comandantes e comandados, por intenções, atos e palavras, escrevem a história militar. Fui brindado, de aspirante ao mais alto posto, pelo convívio com sucessivos comandantes, da mais alta estirpe. Não vou citá-los para evitar omissões. Eles me ensinaram, sobretudo, que nada substitui o exemplo. Com eles aprendi que o Chefe militar nem sempre consegue ser um líder, mas jamais pode abdicar de tentar sê-lo, obstinadamente.

Aos meus comandados, dedico uma reverência respeitosa. Eles foram a principal motivação da minha vida profissional. Obrigo-me a uma citação especial aos que me acompanharam nas duas mais difíceis e relevantes missões de minha carreira. No Haiti, como comandante de uma força de paz, em um país estrangeiro, numa situação real, e na Amazônia, onde a presença efetiva do Estado Brasileiro se resume, quase sempre, à estóica presença das Forças Armadas. Confirmei, nessas ocasiões, o valor do soldado brasileiro e a sabedoria do postulado que cultivei incansavelmente: ao subordinado devemos, antes de tudo, respeito e lealdade. Jamais violei esses princípios. Orgulho-me de poder encará-los, desde s empre, com a cabeça erguida, olhos nos olhos.

A meus últimos comandados, do Departamento de Ciência e Tecnologia, impõe-se uma explicação. Quando fui nomeado para chefiá-los, vocês ouviram, nos corredores do Quartel-General, que eu estava sendo colocado em uma geladeira profissional. Sem dúvida, o DCT nada tinha a ver com meu perfil e minhas aptidões. Por decisão do Comandante Supremo, eu me tornara o exemplo típico do homem errado no lugar errado. Como aprendi, desde cadete, que missão é para ser cumprida, procurei superar minhas notórias deficiências nessa área. Seguindo os passos de meus antecessores, busquei valorizar ainda mais o Engenheiro Militar e fazer com que o Exército avaliasse melho r a importância da Ciência e Tecnologia no mundo de hoje. Lutei para que a Força Terrestre se convencesse de que não haverá a tão sonhada transformação, sem um investimento maciço em autonomia e inovação tecnológica. A experiência, graças a vocês e ao ineditismo de tudo que conheci e aprendi, foi gratificante. Espero que colham os frutos desse trabalho.

Passo agora às jóias mais preciosas desse ciclo: meus filhos Renata e Mário Márcio. Vocês nos deram pouquíssimos problemas e infinitas alegrias, até pelas escolhas que fizeram no casamento. Por serem mais ajuizados do que eu, negaram-me a chance de aplicar os ensinamentos de Psicologia que a AMAN e a vida me transmitiram. Não seguirei a praxe de lhes pedir desculpas pela ausência. Eu e vocês ausentamo-nos quando as circunstâncias exigiram, sempre em busca do sucesso, que, felizmente, todos alcançamos. Meus adorados netos, Leonardo, Henrique e Luís Felipe enchem o presente de alegria e serão, por certo, os perp etuadores do clã, no futuro.

Sonia, você é única. Foi sempre o sustentáculo da família. Amor e emoção à flor da pele. Atua em todo o campo de batalha. Comanda o apoio logístico e faz a segurança da área de retaguarda. Às vezes defende o dispositivo e realiza contra-ataques de desaferramento. Tem ainda papel preponderante nas ações retardadoras e nos retraimentos e, fatalmente, será bastante exigida a partir de agora, na retirada. Devo-lhe parcela considerável do meu sucesso. Obrigado por tudo.

Propositalmente deixei por último meus pais. Sem eles, por motivos óbvios, nada disso teria acontecido.

Dona Edina, minha extremada mãe, professora por vocação, avó amantíssima. Tu foste a educadora clarividente que jamais transigiu com a displicência e exigiu-me, sempre, no limite da minha competência. Tu me mostraste que a vida é luta renhida e fez de mim um estudante diferenciado, não pela inteligência, mas sim pelo método e pela objetividade. Lembro de ti, intensamente, cada vez que devo superar-me e não foram poucas vezes.

Cel Ary, meu adorado pai. A saúde frustrou teus ideais de guerreiro e te transformou em um admirado professor. Partiste muito cedo, quando eu era um jovem tenente. Eras o meu amigo mais leal e sincero, meu companheiro de todas as horas, meu ombro acolhedor. Tua presença, tua gargalhada, teu assobio enchiam a casa. Personificavas a alegria de viver. Lutaste, em 1964, contra a comunização do país e me ensinaste a identificar e repudiar os que se valem das liberdades democráticas para tentar impor um regime totalitário, de qualquer matiz. Foste meu exemplo de dedicação profissional, retidão de caráter, honestidade ina balável, e amor ao Exército e ao Brasil.

Minhas senhoras e meus senhores.
Não vou agradecer ao Exército pelo muito que me proporcionou. Mantive com a Instituição uma relação de amor intenso, sem máculas, uma troca de energia e conhecimento, desinteressada e produtiva.

Se voltasse a passar pelo portão dos novos cadetes, faria tudo novamente. Talvez conseguisse ser mais solidário, mais atencioso, mais organizado, mais paciente, mais competente e mais uma infinidade de outros predicativos. Talvez por isso não nos deixem repetir o percurso. Perderia a graça.

Fui aconselhado, algumas vezes, a ser menos impetuoso e mais tolerante. Preferi, como Cervantes, seguir pela estreita senda da Cavalaria, e, como ele, desprezar certas honrarias para não abdicar de meus valores.

A partir de hoje, assistirei, da arquibancada, a mais um desafio inédito, que o nosso querido Brasil parece disposto a enfrentar: ser a primeira potência mundial a possuir Forças Armadas mal equipadas e muito mal remuneradas, no entanto altamente motivadas e extremamente competentes, como provam todos os dias, nas mais diferentes missões. Tomara que a experiência continue a dar certo.

Lembro apenas um pensamento de Rui Barbosa: “A Nação que confia mais nos seus direitos do que em seus soldados, engana a si mesma e cava sua ruína”

Ao meu dileto amigo Gen Mayer, faço votos de que continue se valendo da competência, do bom senso, da inteligência, da liderança e da capacidade de gerência que o trouxeram até aqui. O Departamento de Ciência e Tecnologia ganha hoje um grande chefe militar. Que Deus o proteja.

Aliás, devem estar surpresos por não ter falado em Deus até aqui. Não julguei necessário. Com Ele me entendo de modo especial. Não preciso de igrejas, de rezas, nem de reverendos. Bastam meus pensamentos, meus sentimentos e meus atos.

Obrigado a todos.

Brasil acima de tudo.

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Demitido você já está!"

Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco
Na casa de um capitão aqui em Marabá mesmo, estávamos realizando um churrasco dominical juntamente com outro capitão e suas respectivas esposas. Almoço gostoso, não pelo churrasco feito por amadores nesse quesito, mas pelo que sobrou do jantar do dia anterior, o que incluia creme de galinha e um baião de dois.
Como é costume em todas as profissões, começamos falando sobre trabalho. Depois, naturalmente, falamos dos outros: bem de quem queríamos bem e mal de quem queríamos mal, naturalmente. Seguindo a sequência, começamos com as mentiras e depois pelas piadas. No final, já com "umas" na cabeça, falamos sobre política, tendo como um dos tópicos os hérois do Brasil.
Manifestei-me dizendo que, dentre os presidentes, admirava mais o Presidente Humberto Alencar de Castelo Branco, o que causou comentários revoltados de uma das esposas presente. Na verdade, era o que eu queria provocar.
Continuei dizendo que o admirava por saber como ele foi formado na Escola Militar, por sua carreira militar, por ter combatido na 2ª Guerra Mundial. Adimirava-o, também, porque durante sua permanência na presidência tomou atitutes que, na maioria delas, trouxe grandes benefícios não apenas imediatos, mas a longo prazo para o país. Adimirava-o mais por ter lido livros sobre o cidadão Humberto e ter aprendido bastante com o seu exemplo. Mais ainda adimirava-o pelo fato ocorrido com seu irmão durante seu governo, que passo a transcrever agora. Ei-lo, o fato:


Em 1966 o presidente Castelo Branco leu nos jornais que seu irmão, funcionário com cargo na Receita Federal, ganhara um carro Aero-Willys, como forma de agradecimento dos colegas funcionários pela ajuda que dera na lei que organizava a carreira. O presidente telefonou mandando que ele devolvesse o carro.

O irmão argumentou que, se devolvesse, ficaria desmoralizado em seu cargo. O presidente Castelo Branco interrompeu-o dizendo:

"Meu irmão, afastado do cargo você já está. Estou decidindo agora se você vai preso ou não".

*Cabra-macho!!!

Merece a continência de quem conhece sua história


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Falha na comunicação

Estado do Amazonas barnco, Cabeça do cachorro vermelha
Certo tenente, em Garanhuns, após ter servido em São Gabriel da Cachoeira, lá na região chamada de "cabeça do cachorro", me contou como era diícil instruir os soldados de lá. Ele comandava o 5º PEF (Pelotão Especial de Fronteira) do Batalhão de "São Gagá" numa região chamada Maturacá
Aquela área é a verdadeira selva Amazônica. Bem diferente de Marabá, por exemplo, cujas florestas foram quase totalmente destruidas, São Gabriel da Cachoeira tem a mata é praticamente intocada, os rios são limpos, os moradores da região são ribeirinho ou indígenas.
Por isso, durante a seleção dos novos recrutas, o contingente fica invariavelmente preenchido por brasileiros com uma cultura típica. Isso para não falar da língua diferente. Era necessário ensinar a dar descarga na privada, usar papel higiênico, amarrar o coturno...
- Soldados, o coturno tem que se encaixar perfeitamente no pé. Não pode ficar muito grande, nem apertado demais. É como se fosse um sapato paisano - esforçava-se o tenente para explicar a forma de escolher a numeração do coturno àqueles que jamais haviam colocado algo embaixo dos pés que não fosse um simples chinelo de dedo.
Depois de escolherem os coturnos, o tenente foi inspecionar:
- Soldado Juruna, o coturno está bom?
-Tá, respondeu.
- Mas está apertado?, continuou indagando o tenente.
- Tá.
- Mas está grande?
- Está.
"Esse soldado não está entendendo nada", pensou o tenente, desistindo da conversa.


Exemplo de PEF

Algumas semanas depois apareceu o Juruna com um olhar sofrido, gemendo, tronco meio curvado para frente, como quem carrega o peso de muitos anos de vida. Ele se aproximou do tenente e disse:
- Meu peito dói.
- Você está passando mal?
- O peito dói. Coração está doendo.
O tenente começou a se preocupar e chamou o médico, que fez um exame preliminar e constatou que tudo parecia normal. Mas o soldado não parava de falar:
- Meu coração está doendo.
O tenente foi lá no Tuxáua (morubixaba, chefe, líder, cacique) da tribo dele para explicar o que estava acontecendo. O tuxáua, conhecedor de sua gente, acalmou o tenente:
 - Tenente, guerreiro Juruna tá com o coração doendo, porque está apaixonado por minha filha. Mas minha filha não quer saber dele, não. Por isso o peito dele dói.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Os tipos de competências

Existe um sábio que serve comigo na Seção de Operações do 52º BIS. Vez ou outra ela lança umas observações interessantes, contumazes, sagazes e pertinentes. O cidadão é um verdadeiro Sócrates, buscando abrir os olhos dos outro para as verdades que nos cercam. Por isso resolvi publicar um de seus ensinamentos.
Palavras de um guru:
- Costa (é assim que ele me chama), quem é capaz?
- É aquele que sabe fazer alguma coisa, eu acho.
- Mais ou menos. Eu meditei e distingui as competências e incompetências. Veja bem: o conscientemente competente é o perito. Foi treinado para executar determinada tarefa e é reconhecidamente preparado para aquela atividade. Ninguém chama um médico para cuidar de um animal, mas um veterinário. Alguém vai procurar um professor para cuidar da lavoura, ou procura o lavrador?
- O lavrador. Isso é verdade.
- Também há o inconscientemente competente. É o caso de uma pessoa que nunca pegou em uma arma, mas atira muito bem. Pode ser o caso de uma pessoa que nunca falou em público e se descobre um bom orador.
- É mesmo.
- Mas, Costa, há também os incompetentes. O conscientemente incompetente é aquele cidadão que sabe até onde vai seus conhecimentos. Um jogador de futebol semi-analfabeto que não tenta expressar opinião literária. Ou o Tiririca, que admitia não ter conhecimento político, apesar de ser candidato a deputado federal. O povo colocou ele porque quis.
- Interessante. Acho que já sei qual a outra classe de incompetentes. Seriam os inconscientemente incompetentes?
- Exato. Normalmente são ignorantes e intrometidos. Falam sobre qualquer assunto, mesmo sem ter a menor ideia de sua estupidez. São encontrados normalmente nos cargos de chefia, em função de status elevado. Olhe ao redor e poderá identificar esse sujeito. Não dificilmente, qualquer um de nós pode se ver enquadrado nesse tipo de incompetencia.
- Falou e disse. Deixe eu me recolher a minha consciente incompetência.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Isso é que é confiança!!


Exemplo de "Comando Craw"


Certa vez, durante a realização de uma pista de cordas pelos recrutas de determinado batalhão, aconteceu algo muito curioso. A pista de cordas nessa Organização Militar era montada sobre a água, em um lago, o que amortecia uma eventual queda do obstáculo, mas exigia medidas contra afogamento.
Segundo um capitão, que atualmente serve comigo, o sistema de segurança foi posto à prova quando ele era, ainda tenente, o instrutor dessa matéria. Durante a parte teórica da instrução, ele descreveu como se desenvolveria a atividade e, a fim de que todos executassem a pista com melhor rendimento, explicou como funcionava o esquema de segurança do local.
Mosquetões, ataduras de peito, botes salvavidas, bóias, apitos, cordas, etc, tudo para não deixar que nenhuma fatalidade ocorresse. No desenrolar da instrução, aconteceu de um soldado cair do obstáculo chamado "Comando Craw". Depois que ele se desvencilhou das amarras que o prendiam à primeira etapa do esquema de segurança, apoiou-se em uma bóia que foi jogada em seu auxílio. O soldado que jogara a bóia com uma corda amarrada e estava puxando o militar para a margem do lago resolveu dar um susto no recruta. Puxou a bóia com força e o que estava sendo resgatado, além de não conseguir se segurar, também não sabia nadar.
Os seguranças que estavam no bote se prontificaram imediatamente ao resgate, mas diferente do que se esperava, o recruta não se debateu na água, simplesmente afundou. Em um segundo pode-se perder uma vida, por isso a ação teve que ser imediata.
Dois militares pularam na água para buscar o soldado no fundo, retonaram sem sucesso. Mais um pulou e foi mais fundo. Voltou sem sucesso. Passaram-se cerca de trinta segundo de procura, o que é uma eternidade em uma situação crítica dessas. Mais um pulou, os demais afundaram juntos na busca.
Retornaram trazendo o soldado à superfície, aparentemente bem. Tão bem, que o instrutor até estranhou sua calma e serenidade.
- Soldado, por que você não se debateu, tentou nadar, ou se desesperou diante de quadro tão dramático?
- Tenente, o senhor falou pra confiar na segurança, então fiquei lá no fundo esperando alguém me resgatar.
Isso é que é confiança!

outro obstáculo: ponte de três cordas

P.S.: o soldado que puxou a bóia com força foi devidamente sancionado disciplinarmente.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Confúcio virou confusão

Algumas Organizações Militares (OM) mais antigas do nosso glorioso Exército possuem o piso construído com taco, ladrilho vermelho, ou um cimento queimado, chamado também de "vermelhão" pela cor que ele adquire à medida em que é encerado. Manter esse tipo de piso o tempo todo brilhando é uma das atribuições dos Encarregados de Material das companhias desses batalhões. Para isso esse militar destacava uma equipe específica para zelar pelo brilho do dito chão.
Não era fácil. Pela manhã cedinho, a equipe limpava o chão e dava o brilho com a cera. No início da tarde tinha que fazer tudo novamente para manter o padrão do piso por todo o dia. Normalmente, a OM possuía apenas uma máquina de encerar, destinada a dar brilho por onde o comandante do batalhão passava rotineiramente. As companhias ficavam desprovidas dessa facilidade, o que obrigava à equipe de enceradores realizar todo o trabalho à mão.
Aconteceu, certa vez em uma dessas unidades,  de o comandante da companhia A estar insatisfeito com o brilho do corredor que dava acesso ao seu Posto de Comando (PC). Todos os dias dava orientações aos militares da equipe de limpeza a esse respeito, mas não percebia melhora na produtividade. Resolveu, então colocar a filosofia de Confúcio em prática.
"Conte-me e eu esqueço, mostre-me e eu me lembro, deixe-me fazer e eu entendo"
- Soldados, todos os dias eu reclamo do brilho desse corredor, digo que tem que ser melhorado, mas nunca está bom! Como é que vocês estão encerando esse piso? - o interessado comandante em melhorar o processo.
Um dos soldados da equipe de limpeza demonstrou.
- Estão vendo?! É por isso que o piso desse corredor está sempre opaco, com o brilho fraco. Deixem eu mostrar como se faz.
O bom comandante pegou o pano da mão do soldado que acabara de demonstrar o processo para lustrar o chão e o passou na grande lata de cera vermelha. Depois tomou aquela posição tradicional de quem vai esfregar o chão com a mão, ou seja, de quatro.
Tá vendo? É assim. Olhem como está brilhando muito mais.
Enquanto isso ocorria, um outro soldado desavisado que ia passando não teve dúvida quando viu aquele militar de quatro e de cabeça baixa. Desferiu um chute na traseira do indefeso ao ponto deste se estatelar no piso recém-encerado.
O capitão ficou louco, mas controlou-se logo em seguida e mandou chamar o Subtenente, Encarregado de Material. Depois de contar-lhe o sucedido, perguntou ao velho subtenente:
- E agora, Sub, o que você acha que eu devo fazer com esse soldado?
- Capitão, se o senhor não quiser que este caso se espalhe, aconselho que o senhor dê um jeito de sumir com esse soldado daqui do quartel.
O comandante assimilou o aviso do encarregado de material e resolveu mandar o militar que o havia "executado" para casa o mais rápido possível por dois dias.
Assim que chegou no quartel novamente, dentro do alojamento com os companheiros, o soldado já foi lançando:
- Dei um chute na bunda do capitão e ainda ganhei uma dispensa como recompensa.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Vigilância Sanitária

A questão sanitária é uma das maiores preocupações em empresas que trabalham fornecendo ou produzindo comida para seus trabalhadores ou clientes. São esse tipo de empresa os para hospitais, escolas, bancos, restaurantes e outros. Sua importância está ligada à boa ou má saúde de todo mundo, porque todos dependem de um ambiente limpo, comidas feitas com higiene, medidas de esterilização, etc, para viver sem ser atacado por micro-organismos causadores de doenças.
 No Exército esse problema já foi muito sério. Não era difícil encontrar baratas, besouros e afins no meio da comida do rancho ou passeando pelos corredores na companhia de roedores. A mesma pessoa que limpava os detritos do rancho e levava o lixo para fora era quem temperava e preparava os alimentos. Ainda bem que esse comportamento mudou, ou tem mudado.
O fato é que, em Garanhuns, quando eu servia na Companhia de Comando e Apoio de lá, o sargonto-de-dia interpelou um dos soldados do pelotão de suprimento - pelotão responsável(?) por fazer a comida - se ele havia sofrido algum acidente.
- Não, sargento, não aconteceu nada, só preciso de um banho. - negou o soldado e continuou sua trajetória na direção do alojamento.
- Mas, soldado,  você está com o seu braço todo roxo! O que foi isso? - perguntou o sargento sem entender aquela esquisitice.
- Ah, isso? É que não tem fruta pro suco do almoço, então o Cabo Guima me mandou preparar suco de uva em pó (Q-suco ou "mancha-pulmão", no nosso jargão de quartel) para servir. Usei o braço para mexer o tacho.
- Quê?! Tá de saca(nagem)?! - indignado o sargento - Você meteu esse braço imundo e suado no suco do almoço? Por que não utilizou aquela ripa de madeira (acumulava todo tipo de sujeira) que vocês colocaram no lugar da colher de madeira (também acumulava sujeira) que quebrou?
- Até que eu procurei purela, sargento - inocentemente tentou argumentar - mas um outro soldado já estava usando ela como cabo de vasoura para varrer o chão.
- Minha nossa! - abestalhou-se o sargento.

Ele veio me contar a história "oportunamente" depois do almoço. A sorte é que ninguém passou mal.
Os procedimentos no rancho começaram a mudar para melhor após esse dia.

A cozinha do quartel não era assim.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Saúde familiar

Certo soldado estava com problemas de saúde na família, sua mãe estava internada e passava muito mal no hospital público de Garanhuns-PE. O soldado estava todo tristonho e de moral baixa. É de se entender.
Quando o comandante de grupo soube da situção, orientou o militar no sentido de que fosse falar com o capitão comandante de companhia e ver se conseguiria sair durante o expediente para acompanhar sua mãe.
- Comandante, minha mãe está passando por uma situação difícil no hospital, o quadro dela é grave, tem que fazer cirurgia.
- Sei, soldado, mas você tem irmãos? Ela é casada?, começou a obter informações o capitão.
- É casada, sim. Tenho duas irmãs e um irmão.
Naturalmente o comandante de companhia fez inúmeras perguntas, a fim de se colocar a par do que ocorria. O soldado, emocionado, explicava que as duas irmãs se revezavam acompanhando a moribunda, que o pai não podia deixar de trabalhar, assim como o irmão, que ele era muito apegado a ela, etc.
O capitão, demonstrando todo seu tato com o subordinado, depois de analisar bem a situação, sentenciou:
- Você não é médico e já tem gente acompanhando sua mãe. Além disso, se você não sabe, o quartel também é trabalho. Não é só seu pai e seu irmão que tem esse privilégio, não. Agora volta para as sus atividades!
Ele não deveria ter falado dessa forma, mas a análise dele não está completamente errada.

Acontece que a presença do ente também conta, não só para o paciente, mas ao que se solidariza.
Como gostaria de estar agora perto de minha irmã para poder abraçá-la. Nunca tinha sentido isso, não sabia porquê as pessoas se condoiam tanto umas pelas outras. Agora vejo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A lei e o legislador

O Exército é uma instituição que tem como pilares a hierarquia e a disciplina. Porém, é comum no corpo de tropa, ouvir dizer que os costumes completam o tripé de nossa sustentação. Os verdadeiros costumes estão regulamentados em nossos manuais e existem por fazerem referência a alguma data ou momento da nacionalidade importantes. Outros são incorporados pela rotina dos quartéis. O Gorro Bandeirante, usado SOMENTE pelos militares que concluíram o Curso de Guerra na Selva e que servem na Amazônia, é um deles.
No entanto, existiu um general que não possuia o tal curso, mas servia na Amazônia e se achava com o direito de usar o bendito gorro. Ele passou seu tempo de selva feliz, visitando as Organizações Militares, indo aos acampamentos, trabalhando no seu gabinete com seu chapéu na cabeça.
Acontece que isso gerou descontentamento entre alguns militares que haviam concluído o curso. Achavam que os outros deveriam utilizar um outro tipo, menos estilizado (foto acima), com acabamento mais simples para diferenciá-los. Até que seu ajudante, também guerreiro de selva, levou o problema ao referido general:
 - Excelência, os militares possuidores do Curso de Guerra na Selva estão incomodados, por que algumas pessoas que não possuem o curso estão usando o gorro bandeirantes.
- É mesmo? E o que eles querem que eu faça?
- Eles sugeriram que fosse baixada uma determinação que restringisse o uso dessa peça de uniforme apenas a eles, como forma de valorização pelo esforço que desprenderam durante o curso.
- Está bem, eles tem razão. Peça para prepararem a ordem, que amanhã mesmo eu assino e despacho.
No dia seguinte a ordem foi assinada e remetida a quem de direito.
O general continuou usando seu Gorro Bandeirantes(imagem abaixo) como sempre.


P.S.: hoje o gorro bandeirantes permitido a qualquer militar que serve na Amazônia.

Começando

Para não dizerem que sou sendo injusto, vou estabelecer uma regra de postagens do blog. Farei um rodízio das histórias de tal forma que os postos e graduações sejam contemplados cada um a seu tempo.
O meu primeiro conto será sobre um general, depois sobre um capitão, um tenente e assim por diante. Alguns postos/graduações são mais recheados de curiosidades e de pessoas que parecem ser fabricantes de boas anedotas, outros geram, normalmente, assuntos mais sérios.
Na descrição do blog está escrito que as hitórias serão sempre vedadeiras, mas o que há de verdadeiro é o conteúdo da história passada a mim, não o fato tal como estará escrito.
Vou dar preferência as histórias ouvidas por mim de pessoas que eu conheço, mas se alguém tive uma das boas, é só mandar para o meu e-mail.
Esse período tem tudo para render muita prosa. Obrigado.