AGORA A HISTÓRIA É OUTRA

Frases raras de soldados, filosofia barata de quartel, exemplos "edificantes" de Liderança, exemplos verdadeiramente edificantes de conduta, atitudes inesperadas e cômicas. Não vou criar nada, porém não vou citar o nome de ninguém (podem ficar tranquilos). Não há compromisso com a verdade. Isso é só o que desejo publicar a partir de agora no novo estoriasdoguerreiro.blogspot.com. Divirta-se.



quarta-feira, 18 de maio de 2011

Falha na comunicação

Estado do Amazonas barnco, Cabeça do cachorro vermelha
Certo tenente, em Garanhuns, após ter servido em São Gabriel da Cachoeira, lá na região chamada de "cabeça do cachorro", me contou como era diícil instruir os soldados de lá. Ele comandava o 5º PEF (Pelotão Especial de Fronteira) do Batalhão de "São Gagá" numa região chamada Maturacá
Aquela área é a verdadeira selva Amazônica. Bem diferente de Marabá, por exemplo, cujas florestas foram quase totalmente destruidas, São Gabriel da Cachoeira tem a mata é praticamente intocada, os rios são limpos, os moradores da região são ribeirinho ou indígenas.
Por isso, durante a seleção dos novos recrutas, o contingente fica invariavelmente preenchido por brasileiros com uma cultura típica. Isso para não falar da língua diferente. Era necessário ensinar a dar descarga na privada, usar papel higiênico, amarrar o coturno...
- Soldados, o coturno tem que se encaixar perfeitamente no pé. Não pode ficar muito grande, nem apertado demais. É como se fosse um sapato paisano - esforçava-se o tenente para explicar a forma de escolher a numeração do coturno àqueles que jamais haviam colocado algo embaixo dos pés que não fosse um simples chinelo de dedo.
Depois de escolherem os coturnos, o tenente foi inspecionar:
- Soldado Juruna, o coturno está bom?
-Tá, respondeu.
- Mas está apertado?, continuou indagando o tenente.
- Tá.
- Mas está grande?
- Está.
"Esse soldado não está entendendo nada", pensou o tenente, desistindo da conversa.


Exemplo de PEF

Algumas semanas depois apareceu o Juruna com um olhar sofrido, gemendo, tronco meio curvado para frente, como quem carrega o peso de muitos anos de vida. Ele se aproximou do tenente e disse:
- Meu peito dói.
- Você está passando mal?
- O peito dói. Coração está doendo.
O tenente começou a se preocupar e chamou o médico, que fez um exame preliminar e constatou que tudo parecia normal. Mas o soldado não parava de falar:
- Meu coração está doendo.
O tenente foi lá no Tuxáua (morubixaba, chefe, líder, cacique) da tribo dele para explicar o que estava acontecendo. O tuxáua, conhecedor de sua gente, acalmou o tenente:
 - Tenente, guerreiro Juruna tá com o coração doendo, porque está apaixonado por minha filha. Mas minha filha não quer saber dele, não. Por isso o peito dele dói.

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